Friday, November 17, 2006

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1.1 – Apresentação

Criar é sempre um risco, perigo abismal. A elaboração de um corpo criativo é como o andar do equilibrista que pé ante pé percorre a corda estendida por sobre sua morte. Deleuze, equilibrando-se através de Michel Foucault, diria se tratar de dobras. “Dobras e desdobras, é isto, sobretudo o que Foucault descobre em seus últimos livros como sendo a operação própria a uma arte de viver (subjetivação)” (DELEUZE, 1992, p.138).
Fazer da vida uma obra de arte. Fazer com que cada atividade humana seja intensa como ela, sem que necessariamente haja arte em toda atividade humana.
Nesse sentido procuramos ressonâncias entre a arte e a filosofia contemporânea. Possíveis utilizações de Nietzsche, Foucault e Deleuze em experimentações artísticas.


A arte da diferença ou a diferença fazendo arte


Sabe-se que a filosofia da diferença, chamada por alguns de pós estruturalismo, têm em Nietzsche, Foucault e Deleuze uma vetorização de forças. A escolha destes para o experimento aqui proposto deve-se, portanto, à presença de suas obras no contexto contemporâneo.

1.2 – Objetivos

a) Possibilitar um espaço de expressão/produção de sentido através das ressonâncias entre filosofia da diferença e arte contemporânea;
b) Potencializar corpos a novas experimentações sensíveis;
c) Produzir um registro desta experiência.



2 – METODOLOGIA


Numa estrutura mais tradicional de intervenção podemos entregar aos participantes exercícios contendo regras previamente elaboradas e bem definidas solicitando que as sigam. Temos aí de forma clara e distinta o nosso método – uma dinâmica elaborada previamente – a nossa teoria – conceitos que nos dizem ser possível lidar com a realidade destes sujeitos através de uma tecnologia fixa – e nosso instrumento técnico – a aplicação do exercício.
Mas se tratando de um referencial da filosofia da diferença as coisas mudam um pouco. À medida em que mergulha nas intensidades da relação, o corpo do artista/filosofo torna-se seu instrumento técnico. Pois se utiliza de alguns conceitos – teoria – afim de operacionalizá-los neste ambiente. Dessa forma, o método necessariamente precisa estar aberto aos devires do grupo.
Ao mesmo tempo, e essa nos parece ser a tarefa do mediador, faz-se necessária à produção de um território habitável. Um espaço comum que forneça – de forma política, ética e estética – boas conexões ao grupo. Para tal, acionaremos, aqui, o Arte Nômade:

2.1 – Arte Nômade

O Arte Nômade é uma espécie de método cartográfico de intensificação das forças criativas. O grupo que o utiliza alimenta-se das intensidades criadas dentro do próprio grupo. A intenção é provocar e deixar passar conexões afectivas
[1] a ponto desses afectos darem materialidade a uma forma de expressão, de vida.
Podendo, essa forma, passar pela montagem de uma instalação, por um espetáculo teatral, por uma produção musical e/ou plástica, por possíveis elaborações de conflitos individuais e/ou institucionais, pela simples e prazerosa companhia dos amigos em torno de um objeto artístico que traz e inventa bons momentos, ou, tentando resumir: pela multiplicidade estética que o grupo for capaz de criar.
[1] Afecto em Deleuze, ao contrário do afeto, é uma potência totalmente afirmativa. O afecto não faz referência ao trauma ou a uma experiência originária de perda, segundo a interpretação psicanalítica. O afecto, ao qual nada falta, exprime uma potência de vida, de afirmação, o que aproxima Deleuze de Espinosa: na origem de toda existência, há uma afirmação da potência de ser. .Afecto é experimentação e não objeto de interpretação. Neste sentido, afecto não é a mesma coisa que afeto: o afecto é não pessoal. Nem pulsão nem objeto perdido, O afecto é uma potência de vida não pessoal, superior aos indivíduos, o devir não humano do homem. (LINS, Daniel. Mangue’s School ou Por uma pedagogia rizomática)

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